Com a atual cotação do barril de petróleo, na casa dos US$ 75, agosto 2009, algumas fontes anteriormente consideradas inviáveis economicamente pelo alto valor de investimento passam a se tornar plausíveis. Este é o caso da exploração de petróleo em reservas encontradas em Folhetos Pirobetuminosos, mais conhecidos como Xistos Betuminosos, que irei abordar neste post.
O Xisto, cujo Brasil detém a segunda maior reserva do mundo, ficando atrás apenas dos EUA, é uma rocha sedimentar do tipo oleígena, normalmente argilosa, que contém betume e querogênio, um complexo orgânico que se decompõe termicamente e produz óleo e gás. Após passar por processo de aquecimento a 500 graus Celsius, é possível extrair dele cerca de 9% em óleo leve, de baixa viscosidade.
Ao ser submetido a estas temperaturas o xisto libera um óleo semelhante ao petróleo, água e gás, deixando um resíduo sólido contendo carbono. O refino tradicional do xisto obtém nafta, gasolina, óleo diesel, óleo combustível e gás liquefeito - correspondentes aos mesmos derivados do petróleo extraído dos poços. As características desses produtos dependem do tipo de matéria orgânica e inorgânica que possuem e do solo onde foram formados.
A maior parte do xisto localizado em território nacional pertence à formação Irati, em São Mateus do Sul, no Paraná, onde o minério é encontrado em duas camadas: a camada superior de xisto com 6,4 metros de espessura e teor de óleo de 6,4%, e a camada inferior com 3,2 metros de espessura e teor de óleo de 9,1%.
Hoje, a Petrobras tem tecnologia no assunto e já extrai, através de sua Superintendência de Industrialização de Xisto (SIX), cerca de 320 toneladas de xisto por hora, e a partir dele produz 3.800 barris/dia, 75 toneladas de enxofre, 45 toneladas de gás liquefeito de petróleo (GLP) e 110 toneladas de gás de refinaria, para uso industrial.
Para aproveitar tudo que o insumo tem a oferecer, a empresa estuda formas de usar, pelo menos, 20% do resíduo da britagem da rocha para queimar e gerar energia. E como o mercado de fertilizantes é uma boa opção de investimento, em tempo de escassez de alimentos no mundo, o ácido sulfúrico e os resíduos de calcário resultantes do processo de aquecimento da rocha também poderão ser reaproveitados na produção de adubos. Até mesmo a água de retornagem do xisto é vendida como adubo, a um valor maior que o próprio óleo.
Apesar dessa versatilidade, comparado ao petróleo, que tem atual produção nacional de 1,9 milhão de barris/dia, o Xisto ainda não têm grande representatividade no mercado. Contudo, é justamente essa diferença exorbitante que financia o desenvolvimento gradativo da nova fonte. Afinal, como o petróleo está chegando ao seu limite e o consumo só aumenta, em 30 ou 35 anos a produção deverá começar a cair e a tendência é de que ocorra uma substituição natural de insumos.
O momento pode ser explicado pela lei da oferta e procura. Nos últimos seis anos, o preço do petróleo tem subido continuamente, e se sobe é porque tem muita demanda e oferta escassa no mercado mundial. Naturalmente, o consumo tende a crescer cada vez mais, principalmente em países como China, Brasil e Índia, que vêm se desenvolvendo e a população tende a comprar cada vez mais produtos derivados do petróleo.
Quanto melhor for a economia do país, maior será a procura por esses produtos e, consequentemente, mais petróleo será necessário. Ou seja, com as constantes altas nos preços do petróleo, o lucro das exploradoras e produtoras do insumo está crescendo no mesmo ritmo e dá a elas condições de investir em novas fontes energéticas. As tecnologias mais caras estão vão sendo viabilizadas de acordo com a escassez da matéria mais fácil.
O custo para produzir óleo a partir da rocha é muito mais elevado. Para que essa prática torne-se economicamente viável, o preço do petróleo teria que aumentar. E, com o patamar que alcançou hoje, todos os países que possuem reservas estão trabalhando em prol do xisto, mesmo com as questões ambientais que advém desta produção no tocante à emissão de gases.
A tecnologia de extração de Xisto desenvolvida pela SIX, denominada Petrosix, tem como principal característica a simplicidade operacional: o xisto minerado a céu aberto passa por um britador que o reduz a pedras de 6 a 70 milímetros.
Esse material é levado a uma retorta para sofrer a pirólise sob uma temperatura de aproximadamente 500 graus centígrados. A ação do calor libera o conteúdo orgânico na forma de óleo e gás.
A viabilidade técnica do Petrosix foi comprovada com a entrada em operação da Usina Protótipo do Irati (UPI), em 1972. Já o início da produção do Modulo Industrial em plena escala, em dezembro de 1991, marcou a consolidação da tecnologia por parte da Petrobras. Vale lembrar que estive visitando esta usina cerca de 20 anos atrás e me lembro que, na ocasião, diziam que seria viável quando o petróleo chegasse a US$ 60 o barril.
Na atualidade, o processo Petrosix se configura como o único processo contínuo testado industrialmente, de grande eficiência, e que, embora desenvolvido para os xistos pirobetuminosos da formação Irati, no Brasil, pode ser adaptado para a maioria dos xistos pirobetuminosos existentes em outras reservas no mundo. Isso explica o crescente interesse que este processo vem despertando na atualidade, e confere à Petrobras uma posição de domínio tecnológico nesse segmento, podendo, graças a alta incessante do Barril de Petróleo, atrair investidores internacionais para desenvolver parcerias estratégicas com o Brasil.
Desta forma, além do nosso pré-sal, temos o Xisto que não pode ser dispensado como alternativa no futuro energético do País e do mundo.
booom
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