terça-feira, 6 de outubro de 2009

Chegar aqui não foi fácil, eu sei…

 

Na verdade, suspeito que foi um pouco mais difícil do que você imagina.

Para início de conversa, para você estar aqui agora, trilhões de átomos agitados tiveram de se reunir de uma maneira intrincada e intrigantemente providencial afim de criá-lo. É uma organização tão especializada e particular que nunca antes foi tentata e só existirá desta vez. Nos próximos anos (esperamos), essas partículas minúsculas se dedicarão totalmente aos bilhões de esforços jeitosos e cooperativos necessários para mantê-lo intacto e deixa-lo experimentar o estado agradabilíssimo, mas ao qual não damos o devido valor, conhecido como existência.
Por que os átomos se dão esse trabalho é um enigma. Ser você não é uma experiência gratificante no nível atômico. Apesar de toda a atenção dedicada, seus átomos na verdade nem ligam pra você. Não sabem nem que eles existem. São partículas insensíveis, afinal, e nem estão vivas. ( A idéia de que você se desintegrasse, arrancando com uma pinça um átomo de cada vez, produziria um montículo de poeira atômica fina, sem nenhu,m sinal de vida, mas que constituiria você, é meio sinistra). No entanto, durante sua existêmcia, eles responderão a um só impulso dominante: fazer com que você seja você.
A má notícia é que os átomos são volúveis e seu tempo de dedicação é bem passageiro. Mesmo uma vida humana longa dura apenas cerca de 650 mil horas. E quando esse marco modesto é atingido, ou algum outro ponto próximo, por motivos desconhecidos, os seus átomos vão “desligar” você, sileciosamente se separarão e passarão a ser outras coisas. Ai você já era.
Mesmo assim, você poderá se dar por satisfeito de que isso chegue a acontecer. No universo em geral, ao que sabemos, não acontece. É um fato estranho, porque os átomos que tão liberal e amigavelmente se reunem para formar os seres vivos na Terra, são exatamente os mesmos átomos que se recusam a fazê-los em outras partes. Por mais complexa que seja, no nível químico a vida é curiosamente trivial: carbono, hidrogênio, oxigêmio e nitrogênio, um pouco de cálcio, uma pitada de enxofre, umas particulas de outros elementos bem comuns – nada que você não encontre na farmácia próxima – , e isso é tudo que você precisa. A única coisa especial nos átomos que o constituem é constituirem você. É o milagre da vida.
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Trecho do livro Breve História de Quase Tudo, Bill Bryson, Compania das Letras, 2008.
 
 

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Tabela Periódica Interessante



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Créditos de Carbono

Quanto o Brasil pode ganhar com créditos de carbono?


Cerca de 6 bilhões de euros por ano! Pelo menos esse é o potencial do país, de acordo com o consultor Antônio Carlos Porto Araújo, autor do livro Como Comercializar Créditos de Carbono. Você deve estar se perguntando: mas o que são créditos de carbono e por que eles valem tanto? Créditos de carbono são certificados emitidos pelo Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) - um órgão da ONU - quando ocorre a redução de emissão de um dos seis gases do efeito estufa. Ou seja, se você provar que está evitando lançar esses gases no ar, ganha um certificado, que pode ser vendido a empresas que poluem muito. Mas por que elas compram? Porque são obrigadas pelo Protocolo de Kyoto, um acordo assinado por 175 países para reduzir o aquecimento do planeta. Na verdade, até 2012 apenas 36 desses países têm metas de corte de emissões. São justamente os países mais industrializados, que poderiam ter um impacto enorme na economia deles ao reduzir suas emissões "sujas". Por isso, a ONU permitiu que empresas desses países comprassem a redução feita em outros países, como o Brasil, que, por ora, não tem meta nenhuma. E a negociação acontece como no mercado de ações, em locais como Bolsa de Clima de Chicago, fundada em 2003, ou mesmo a Bovespa, em São Paulo. O chamado mercado do carbono ainda dá seus primeiros passos, mas tende a crescer muito a partir deste ano. Só no Brasil, 61 empresas já conseguiram ganhar créditos - aliás, o primeiro crédito emitido no mundo foi para uma empresa de Nova Iguaçu-RJ, em 2004 - e várias já os venderam a empresas de países ricos. Até agora Japão, Holanda e Reino Unido são os maiores compradores, enquanto Índia e Brasil são os que mais vendem.

Tira do céu e põe no bolso

Uma empresa pode levar até quatro anos para conseguir obter lucros seqüestrando carbono do meio ambiente

1. Para obter créditos de carbono, uma empresa precisa, antes de tudo, criar um projeto para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. E o projeto precisa convencer o MDL. Para isso, a empresa tem duas opções: desenvolver uma metodologia a partir do zero ou escolher alguma entre as 85 já registradas no órgão. Veja alguns exemplos de projeto:

Projeto - Aterro sanitário

O que fazer? - O gás metano liberado pelo lixo é canalizado e aproveitado para gerar, por exemplo, energia elétrica

Problema - Embora um grande aterro possa gerar muitos créditos, os custos de implantação da usina são muito altos


Projeto - Troca de combustível

O que fazer? - Usar combustíveis que liberem menos CO2. Trocar diesel por biodiesel, por exemplo, rende 3,5 créditos por tonelada

Problema - Rende menos créditos do que, por exemplo, um aterro, porque o metano dá 21 vezes mais créditos do que o CO2


Projeto - Reflorestamento

O que fazer? - Plantar árvores. Enquanto cresce, uma árvore absorve cerca de 180 quilos de CO2 do meio ambiente

Problema - É difícil medir com exatidão a quantidade de carbono seqüestrada do ar por uma área reflorestada.


2. O projeto é avaliado por uma auditoria independente, reconhecida pelo conselho do MDL. Se for aprovado, ele passa por outra análise, feita pela instituição pública responsável. No Brasil, o responsável é o Ministério da Ciência e Tecnologia, em Brasília, que leva cerca de seis meses para avaliar cada projeto


3. Se a instituição pública do país botar fé no projeto, ele é encaminhado para o conselho do MDL, órgão que pertence à ONU. Chegando lá, o projeto é novamente analisado e pode ter três caminhos: ser reprovado, ser aprovado ou receber críticas e sugestões de mudanças. Nesse caso, depois das mudanças, ele volta para o MDL

4. Com o projeto aprovado, é hora de implantá-lo. Se ele já estiver implantado, a empresa precisa monitorar, acompanhada por uma auditoria reconhecida pela MDL, a quantidade efetiva de redução das emissões. Esses dados geram um relatório que vai para o conselho do MDL. Afinal, não basta prometer reduzir e não cumprir


5. Depois de todos esses procedimentos, a empresa enfim recebe os créditos de carbono. A quantidade de créditos é baseada no número de toneladas de gás "economizada". Veja na tabela quanto uma tonelada de cada um dos seis gases do efeito estufa vale.


6. De posse dos créditos, as empresas vão ao mercado. Há duas opções para venda: bater à porta de um fundo comprador de créditos ou contratar uma consultoria para levar seus créditos para o mercado. As negociações diretas entre empresas ainda são raras e os valores, assim como na bolsa, variam de acordo com a procura.


Valor dos gases

Quantos créditos rende cada gás

CO2 - (Dióxido de carbono) = 1

CH4 - (Metano) = 21

N2O - (Óxido nitroso) = 310

HFCs - (Hidrofluorcarbonetos) = 140 a 11 700

PFCs - (Perfluorcarbonetos) = 6 500 a 9 200

SF6 - (Hexafluoreto de enxofre) = 23 900

Como o petróleo se transforma em tantos produtos?

O segredo é saber extrair do ouro negro tudo o que ele já tem. Em seu estado natural, o petróleo é um líquido pastoso que traz uma mistura de gasolina, diesel, querosene, gases liquefeitos e um monte de outros óleos. O que as refinarias fazem é separá-los dessa massa bruta. Como cada produto tem um ponto de ebulição diferente, basta aquecer o petróleo para retirar seus derivados. A40ºC, o vapor que aparece é o GLP, o famoso gás de cozinha. Quando a temperatura vai a 100ºC, o vapor é de gasolina, e assim por diante. Depois, cada um desses vapores é transformado em líquido e retirado por tubos da chamada torre de destilação, onde os derivados do óleo são separados.

Muitas vezes, entretanto, é preciso ir mais longe até chegar ao produto final, O próprio combustível do carro, por exemplo, não é exatamente a gasolina que sai desse processo. "Só entre 20% e 30% da gasolina é obtida diretamente pela destilação.

A maior parte surge com o processamento de outras partes menos valiosas do petróleo", diz o engenheiro químico Juarez Perissé, da Petrobrás. Nessa hora, entra em cena o chamado processo de "quebra" dos derivados, capaz de transformar resíduos da mistura em gasolina e gás, por exemplo. A estratégia é eliminar a diferença fundamental entre os derivados: o tamanho de suas cadeias ou agrupamentos de carbono. Há os "leves", como a própria gasolina, que têm cadeias pequenas, com cinco a 12 átomos de carbono cada. Já os "pesados", como o diesel e o óleo combustível, têm até 70 átomos. Por meio de tratamentos com produtos químicos, os técnicos conseguem dividir as cadeias maiores de resíduos, formando várias cadeias pequenas. E essa facilidade de recombinar os agrupamentos de carbono que faz com que o petróleo seja base de tantos produtos.

Divisão que rende
Após ser destilado, o líquido negro dá origem a centenas de derivados

AQUECENDO A MISTURA

O processo de separação de produtos começa em grandes caldeiras, onde o petróleo é aquecido até se transformar totalmente em vapor. Essa fumaça vai então para a chamada torre de destilação, que tem capacidade para processar até 40 Milhões de litros de óleo por dia. Lá o vapor é resfriado a temperaturas diferentes e vira líquido. No final, um conjunto de tubulações retira cada um dos derivados

GÁS E PLÁSTICOS

O derivado mais leve - que justamente por isso é retirado da parte mais alta da torre - é o GLP, o gás liquefeito de petróleo. Esse produto de apenas três ou quatro átomos de carbono e usado como gás de cozinha e propelente de Aerossóis, além de servir de base para a fabricação de diversos tipos de plásticos

TANQUE CHEIO

A gasolina propriamente dita é derivada das chamadas naftas pesadas, substâncias com cadeias de cinco a 12 átomos de carbono, obtidas a cerca de 100ºC. Mas apenas 20% do combustível dos postos tem essa origem. O resto é formado por naftas leves, com cinco a nove átomos de carbono, destiladas diretamente ou a partir de resíduos

DERIVADO ELASTÍCO

Além de ser usado como solvente o benzeno é a principal matéria-prima para o náilon. Sua estrutura de seis átomos de carbono forma um plástico que pode ser derretido e moldado com facilidade. E é a partir desse material que são construídas fibras elásticas, que servem para roupas, bolsas e até cordas de violão

COMBUSTÍVEL LIMPO

Entre todos os subprodutos do petróleo, o querosene é um dos mais limpos. Afinal, a queima de seus nove a 16 átomos de carbono gera pouquíssima fumaça e praticamente nenhuma fuligem. Como quase não tem resíduos, ele não deixa rastros nem danifica motores ou turbinas. Por isso, é o combustível preferido para impulsionar aviões a jato

PRODUTO ROBUSTO

A 260ºC e a 340ºC saem, respectivamente, o diesel leve e o diesel pesado. Os dois são usados na fabricação do diesel comercial, que tem de 12 a 22 átomos de carbono. Perfeito para motores de caminhões, tratores e navios (fortes e de alto torque), o diesel é o combustível mais usado no país. Só nas refinarias da Petrobrás, 35% do petróleo é transformado nesse óleo

BEIJO OLEOSO

A partir de 360ºC, sobram no fundo da torre subprodutos com mais de 70 átomos de carbono. Por meio de processos físico-químicos, suas cadeias são quebradas e dão origem a substâncias mais valiosas, como as naftas leves recombinadas, que com seus cinco a nove átomos do carbono fornecem a textura plástica das películas de batom e de outros cosméticos

RESÍDUO RARO

Outro derivado que aparece nos resíduos é o óleo lubrificante, essencial para o funcionamento de qualquer tipo de motor. No Brasil, entretanto, esse produto que possui entre 20 e 50 átomos de carbono é bastante difícil de ser encontrado. Isso porque ele só aparece em tipos raros de petróleo, presentes principalmente nas reservas de países do Oriente Médio

BARATO E SUJO

Também processado a partir de resíduos, o gasóleo pesado ou óleo combustível tem suas longas cadeias de 20 o 70 átomos de carbono quebradas para se transformarem em óleo diesel e em gasolina. Em estado bruto, é um combustível barato utilizado em máquinas Industriais. A grande desvantagem é que sua combustão libera uma grande quantidade de fuligem

TUDO SE APROVEITA

Derivados residuais menos nobres, com mais de 70 átomos de carbono, sobram em grande quantidade. Mesmo essas substâncias são aproveitadas, servindo, por exemplo, para a fabricação de asfalto de ceras e de combustíveis de queima lenta, como o coque, usado em aquecedores residenciais e industriais no hemisfério norte.

Fonte: Revista Mundo Estranho – Editora Abril